terça-feira, 9 de março de 2010

“Na real, meu objetivo é dominar o mundo!”



Em 11 de fevereiro o mundo da moda se chocou pela última vez com o estilista londrino Alexander McQueen. Dessa vez, infelizmente, porque ele fora encontrado morto em seu apartamento em Mayfar, Londres. O enfant terrible, o bad boy da moda britânica não poderia mesmo ter um fim convencional. Afinal, ao longo de seus 40 anos, ele nunca foi dado a convenções mesmo.

Filho de um humilde taxista, Lee Alexander McQueen precisou abandonar a escola aos 16 anos e passou a estagiar em boutiques da tradicional rua de alfaiataria inglesa Savile Row como Anderson & Sheppard e Gieves & Hawkes, onde confeccionou ternos que seriam usados por poderosos como o príncipe Charles e Mikhail Gorbachev. Passou, então, um curto período de tempo na alfaiataria de Romeo Gigli, na Itália.

Dessa época, herdou uma técnica precisa no feitio de ternos. Louise Wilson, diretora do curso da Central Saint Martins, disse em entrevista à revista americana WWD, que o estilista trouxe essas habilidades ao curso que frequentou, tendo se formado em 1994. “Ele tinha trabalhado na Itália para pessoas como Romeo Gigli, e tinha habilidades que faziam com que distorcesse o corpo da mulher e alargasse os limites do corte e da alfaiataria”.

Sua formatura na prestigiada universidade londrina já mostrou que o designer viria para ficar. A stylist – conhecida por guru fashion – Isabella Blow se encantou tanto com a coleção apresentada por McQueen que a comprou inteira, por 5 mil libras, e deu o impulso de que Alexander precisava. Segundo o jornal NY Times, seus primeiros desfiles em Londres, em locais de estilo underground, foram recebidos como um break das tradicionais coleções de luxo mostradas em outros lugares na Europa. O interessante na obra de McQueen é que, apesar de ter estagiado com alfaiates extremamente clássicos, ele virou o nariz para as convenções do estilo inglês e apresentou coleções chocantes nas passarelas, que faziam de seus desfiles verdadeiros espetáculos de moda.




Difícil enumerar todas as vezes que sua ousadia tirou o fôlego da crítica, mas alguns exemplos marcantes são as roupas feitas com ossos de animais, a produção das modelos, que ora pareciam pacientes de um sanatório, ora se assemelhavam a peças de xadrez em tamanho humano. Sua controversa coleção Highland Rape, de 1995, a base de tecidos remendados e patchwork e o desfile realizado em 2008 em homenagem à amiga Isabella Blow (que havia se suicidado) - com uma cortina em forma de asas angelicais e um pôster com a imagem de Isabella indo aos céus em uma carruagem puxada por cavalos alados - foram outros momentos inesquecíveis de sua carreira.

Com uma personalidade tão forte e obras-primas da moda, Alexander não demoraria para chamar a atenção de grandes empresários. Em 1996, seria chamado pelo grupo LVMH para assumir a direção criativa da Givenchy, no intuito de modernizar a marca, conhecida por seus vestidinhos pretos. McQueen aceitou a proposta e os cinco anos à frente da maison foram necessários para seu amadurecimento. Já em 1996 ganharia o primeiro de quatro prêmios British Designer of the Year (os outros foram em 1997, 2001 e 2003). Alexander ganharia ainda, ao longo de sua carreira, o prêmio de Men's Designer of the Year em 2004 e de Best International Designer pelo CFDA em 2003 e recebeu uma homenagem da rainha Elisabeth II por serviços prestados à indústria da moda.



Seu método criativo, é claro, não era nada convencional. “Ele literalmente cortava tecidos direto do rolo, dispunha no chão e pedia a tesoura a sua assistente. Aí ele ia pensar em como 'atacar' o pedaço de tecido. E eis um vestido ou um blazer surgindo”, disse à revista WWD a stylist Camilla Nickerson. “Lembro a primeira vez que vi Alexander McQueen,” completou Suzy Menkes do International Herald Tribune. “Ele estava em um pequeno apartamento no East End. Todo o chão estava caótico com pedaços de tecidos e coisas ao redor, pedaços de fios…” Pois, assim com suas raízes e seu estágio pela Savile Row, sua temporada à frente da Givenchy também acrescentou elementos à obra de McQueen e muitas de suas peças tinham acabamento de alta-costura e eram vendidas sob encomenda. “A moda deveria ser uma forma de escapismo, e não de prisão”, disse em uma entrevista ano passado. Realmente, suas coleções misturavam contos de fada à sua própria biografia e tinham sempre o tempero da vanguarda.

“Ele trouxe um senso muito britânico de coragem e uma ousadia estética ao palco global da moda. Em tão curta carreira, a influência de Alexander McQueen foi impressionante — do street style à cultura musical e aos museus”, disse a editora da Vogue americana Anna Wintour. E ela tem razão, pois McQueen foi além das passarelas. Em 1997, foi diretor de arte da capa do álbum da Björk “Homogenic”, e dirigiu o clipe de uma das faixas do álbum “Alarm Call.” Ele também desenhou o blazer vestido por David Bowie na capa de seu álbum “Earthling” e Lady Gaga usa peças da atual coleção primavera verão do designer — incluindo os famosos sapatos Armadillo — no clipe do single “Bad Romance".



Em toda sua obra, McQueen expunha sua característica agressiva, e uma fascinação por assuntos dark. “Sua imaginação brilhante não tinha limites. Por um lado, ele era o mestre do fantástico, criando assombrosos desfiles de moda que misturavam design, tecnologia e performance. Por outro, era um gênio moderno cuja estética gótica foi adotada por mulheres do mundo todo", disse Alexandra Shulman, editora da Vogue britânica. Além de toda sua contribuição artística, McQueen tinha orgulho de sua marca apresentar grande valor econômico: sua grife (hoje controlada em 51% pelo Grupo Gucci, filial da PPR) tem atualmente 11 lojas próprias, 194 pontos de venda em 39 países e emprega 180 pessoas. E ele era admirado também por chegar onde todo estilista desejo: o topo da pirâmide da moda, mas com a preocupação cada vez maior de chegar a mais e mais pessoas. Há poucas estações, apresentava seus desfiles ao vivo pela internet, com o intuito de chegar a países que não tinham acesso a suas coleções. E brincava: “Na real, meu objetivo é dominar o mundo!”

Fonte:http://www.gestaodoluxo.com.br/

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