As estampas na passarela de Andrea Marques, em janeiro deste ano no Fashion Rio
Em 2009, quando a estilista Andrea Marques visitou a galeria de arte Eduardo H. Fernandes, no bairro da Vila Madalena, se encantou com o trabalho da paulistana Malu Saddi, que desenha delicadas imagens fluídas com caneta esferográfica e lápis de cor em papel. Meses depois, no backstage de seu primeiro desfile no Fashion Rio, Andrea apontava os vestidos que tinham sido inspirados na obra "Pulmãootório", criada pela artista em 2008. O que o público não sabe é que a maioria das estampas femininas e artísticas que são uma marca da criação de Andrea é um trabalho feito a quatro mãos com a diretora de arte Ana Laet. A parceria de grifes e agências de design no desenvolvimento criativo, aliás, é cada vez mais comum na moda.
No caso de Andrea, esta dobradinha vem desde os tempos da Maria Bonita Extra. Ana fazia estampas para a marca e Andrea era a estilista. Quando saiu para se dedicar à grife própria, a parceria entre elas continuou. "Passo as referências para a Laet e eles desenvolvem para mim. É uma extensão da minha equipe de criação", explica Andrea.
Estampas criadas por Ana Laet para a coleção de Andrea Marques inspirada na obra de Malu Saddi
Na época em que a publicidade tabagista ainda era permitida, Ana Laet criava as sofisticadas campanhas da marca Free. Trabalhava em agência de comunicação e, de lá para cá, abriu seu próprio escritório. O envolvimento pessoal com estilistas e empresários de grifes como Cantão, Sacada e Huis Clos apontou o caminho: hoje, a estamparia é um dos focos do seu trabalho.
Os pontos de partida para o desenvolvimento destes prints são diversos: "Há trabalhos que vem de desenhos feitos à mão, mas não existem regras. Já escaneamos tecidos especiais, usamos spray sobre papel de fax, trabalhamos digitalmente folhas do Jardim Botânico fotografadas por nós e chegamos até a criar um carimbo com tampinhas de garrafa", conta.
Para a coleção da Animale que já está nas lojas, Ana focou no trabalho dos artistas Cildo Meirelles e Mira Schendel: "Claudia Jatahy (dona da Animale) se inspirou no tempo. Encontramos no trabalho de Mira, números e tipografias que falavam sobre isso", diz.
Para as padronagens, Ana explica que o processo foi mais hadmade: "Dobramos o papel e jogamos tinta spray nele fechado. Quando abrimos, conseguimos estas listras vazadas".
Para as padronagens, Ana explica que o processo foi mais hadmade: "Dobramos o papel e jogamos tinta spray nele fechado. Quando abrimos, conseguimos estas listras vazadas".
Obra de Mira Schendel, de 1967 (à esquerda) e a estampa da Animale (centro). Ao lado, estudo de estamparia desenvolvido por Ana Laet para grife (à dir.)
OUTROS MESTRES EM CRIAR ESTAMPASPrints desenvolvidos por Renata Americano para os desfiles da Ausländer (à esq.) e Nica Kessler (à dir.) no último Fashion Rio
Amaioria das imagens criadas por Renata são desenhados à mão livre e depois vetorizadas para serem editadas no computador. A designer, que também adora pintar com aquarela, conta com cinco profissionais na sua equipe, cada qual com sua especialidade. "Tenho arquitetos, que são os mais atentos à questão da perspectiva e à sombra do desenho, e estilistas, que se atêm ao caimento da padronagem no corpo", exemplifica.
Padronagens de Renata Americano para a coleção da Afghan e, ao lado, simulações no corpo da modelo
Sobre a emoção que sentiu ao ver sua estampa ganhando as ruas, Renata relembra um episódio inesquecível: "Sou fanática por Fórmula 1 e estava assistindo ao Grande Prêmio do Brasil de 2006. A Ivete Sangalo subiu no palco para cantar o Hino Nacional e lá estava ela, usando um vestido Adriana Barra, cuja estampa fui eu quem fiz. Emocionante."
Sala de criação da La Estampa, com quadro de referências ao fundo; na arara à direita, parte do acervo de estampas. Fotos: Daniela Duarte
A La Estampa (foto acima), instalada em um galpão em São Cristovão, no Rio de Janeiro, é uma das maiores empresas deste seguimento. Com 1.200 clientes, entre eles marcas como M. Officer, Maria Filó, XSITE e Enjoy, o seu acervo é de 24 mil prints, seis milhões de metros de tecido produzidos por ano e 180 funcionários. Uma fábrica de fazer arte.
"Recorremos a livros, filmes, revistas, ruas, internet, mas também estudamos os books dos grandes desfiles que acontecem pelo mundo. Estes livros são enviados de fora, com todos os detalhes da roupa e da modelagem", revela Paula Furtado, coordenadora de estilo da La Estampa, que tem uma parceria internacional com a fábrica espanhola Sedatex, há 120 anos no mercado. Prova que fazer estampa é um negócio e tanto.
Trabalhar com as mãos também é uma característica de Renata Americano. Para dar um efeito inovador à sua criação, a designer, que tem no currículo a confecção de prints para grifes como Ausländer, Nica Kessler, Agilitá, Cavendish e Shop126, encheu um pirex com água, mergulhou objetos e colocou a composição dentro num scanner. A cada movimento, digitalizava uma imagem nova.
"Ainda não usei este experimento para nenhuma marca, mas o trabalho manual é uma forma de buscar alternativas para ilustrar de uma forma inédita. O cliente quer o novo e nós temos que ir além", afirma ela, que está há seis anos no mercado e, em 2009, abriu o estúdio Fabrikat, especializado no design de estampas.
Fonte:http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI124240-17631,00-FINAS+ESTAMPAS+CONHECA+A+PARCERIA+DE+ESTILISTAS+COM+ESCRITORIOS+DE+CRIACAO.html
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