Cantada em verso e prosa e conhecida internacionalmente como o lugar onde a menina, linda e cheia de graça, segue, com seu doce balanço, a caminho do mar, Ipanema é, sem dúvida, junto com Copacabana, o lugar que reúne o maior número de elementos que compõem o imaginário sobre o Rio de Janeiro (e o Brasil) dentro e fora do país.
Sua praia aparece na edição especial da revista Época “O melhor do Rio” como um dos destaques da cidade e a preferida dos leitores. São dois quilômetros de extensão onde tudo parece exaltar a diversidade, a mistura, os antagonismos, os contrastes, a beleza, o contato com a natureza, a descontração e a transgressão que fazem parte do lifestyle carioca.
Não podemos esquecer, porém, da Ipanema mais sofisticada, dos negócios arrojados, do consumo, do culto ao corpo, da moda, da gastronomia, que não parou de crescer nas últimas décadas, trazendo novos e importantes elementos para as representações sobre o bairro e para o seu desenvolvimento.
Para conversar conosco sobre as diferentes facetas de Ipanema, convidei a antropóloga Marisol Goia, Mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a dissertação “A província da Ousadia: Representações Sociais Sobre Ipanema” e Doutoranda em Antropologia Urbana pela Universidade de Tarragona, Espanha.
Marisol, o que te levou a estudar as representações sobre o bairro de Ipanema?
MG: Tive motivações pessoais e intelectuais para a pesquisa sobre Ipanema. Residi ali desde pequena, com uma constante sensação de que havia “algo equivocado”, pois morar em um apartamento confortável nesse bairro não era condizente com as condições financeiras da minha família. Sob o aspecto econômico, éramos, sem dúvida “peixes fora d`água” de Ipanema, pagando com muito sufoco taxas elevadas de aluguel e condomínio. Por outro lado, comecei a perceber, sobretudo quando entrei na universidade e passei a freqüentar circuitos para além da Zona Sul, que a contradição que eu vivia não me livrava de ser identificada (e, às vezes, até mesmo estigmatizada) como uma pessoa que não só era “de Zona Sul”, como vivia na “nata” dessa zona. Observar de perto esses sistemas de rotulação referentes às zonas e bairros cariocas, vivendo, simultaneamente, a ambigüidade de estar em um bairro rico sem ser rica, me levou a refletir sobre a construção de fronteiras simbólicas na cidade do Rio de Janeiro. Com relação às motivações intelectuais, observava como os meios de comunicação produzem e reproduzem representações sobre o bairro de Ipanema, recorrendo a idéias diferentes e que, por vezes, se contradizem: Ao mesmo tempo em que Ipanema é divulgada como um emblema do “espírito carioca”, também aparece como um bairro distintivo e requintado. O ipanemense é associado a estilos de vida transgressores, inovadores e vanguardistas, mas também é valorizado por comportamentos de conformidade normativa, como o estilo de vida consumista e a busca pelo corpo perfeito. Diante disso, me interessei em analisar a construção simbólica dessas duas “Ipanemas”.
MG: Tive motivações pessoais e intelectuais para a pesquisa sobre Ipanema. Residi ali desde pequena, com uma constante sensação de que havia “algo equivocado”, pois morar em um apartamento confortável nesse bairro não era condizente com as condições financeiras da minha família. Sob o aspecto econômico, éramos, sem dúvida “peixes fora d`água” de Ipanema, pagando com muito sufoco taxas elevadas de aluguel e condomínio. Por outro lado, comecei a perceber, sobretudo quando entrei na universidade e passei a freqüentar circuitos para além da Zona Sul, que a contradição que eu vivia não me livrava de ser identificada (e, às vezes, até mesmo estigmatizada) como uma pessoa que não só era “de Zona Sul”, como vivia na “nata” dessa zona. Observar de perto esses sistemas de rotulação referentes às zonas e bairros cariocas, vivendo, simultaneamente, a ambigüidade de estar em um bairro rico sem ser rica, me levou a refletir sobre a construção de fronteiras simbólicas na cidade do Rio de Janeiro. Com relação às motivações intelectuais, observava como os meios de comunicação produzem e reproduzem representações sobre o bairro de Ipanema, recorrendo a idéias diferentes e que, por vezes, se contradizem: Ao mesmo tempo em que Ipanema é divulgada como um emblema do “espírito carioca”, também aparece como um bairro distintivo e requintado. O ipanemense é associado a estilos de vida transgressores, inovadores e vanguardistas, mas também é valorizado por comportamentos de conformidade normativa, como o estilo de vida consumista e a busca pelo corpo perfeito. Diante disso, me interessei em analisar a construção simbólica dessas duas “Ipanemas”.
Nessas representações, que elementos compõem o que podemos chamar de “DNA Ipanemense”?
MG: De um lado, temos a Ipanema das décadas de 60 e 70, enaltecida pelo seu caráter libertário, transgressor, boêmio e inovador. Por outro, temos a Ipanema atual, associada a valores como elegância, sofisticação, moda, consumo, despojamento, beleza e corpo em forma. Poderíamos dizer que o primeiro “DNA ipanemense” se encontraria no corpo de Leila Diniz e de Fernando Gabeira, insistentemente associados ao bairro pelas polêmicas geradas pela exposição de seus corpos; ela, uma atriz grávida de biquíni, e ele, um ex-exilado político de tanga.
Com relação à Ipanema de hoje, as personalidades que costumam aparecer nos meios de comunicação como portadoras do “DNA ipanemense” são a apresentadora Cynthia Howlett, representante do “despojamento” da geração-saúde das elites, e os empresários Alexandre Accioly, o galã bem-sucedido dos estabelecimentos “badalados” da cidade¸ e Oskar Metsavaht, proprietário e estilista da grife Osklen.
Antes representada por intelectuais, artistas e boêmios e hoje associada ao que você chama de uma “aristocracia informal”, à sofisticação e a uma ética do consumo. O que mudou e o que permaneceu o mesmo nas representações sobre Ipanema?
MG: É interessante observar como essas duas representações sobre Ipanema ainda convivem, pois o passado do bairro continua sendo lembrado e, inclusive, construído no presente. A Ipanema de antes é uma referência central para a de hoje, ainda que os mais nostálgicos afirmem que “aquela” Ipanema acabou. É verdade que cada uma evoca éticas próprias de seu tempo, mas isto não significa que certos aspectos não tenham permanecido. Acredito que continue havendo uma relação significativa entre a praia de Ipanema e os jovens da cidade – já que ela atrai freqüentadores de diversas procedências, tanto da cidade, como de fora dela. Penso que essa relação com a juventude contribui para o fenômeno tradicionalmente associado a Ipanema: ser “um bairro que lança modas”.
MG: É interessante observar como essas duas representações sobre Ipanema ainda convivem, pois o passado do bairro continua sendo lembrado e, inclusive, construído no presente. A Ipanema de antes é uma referência central para a de hoje, ainda que os mais nostálgicos afirmem que “aquela” Ipanema acabou. É verdade que cada uma evoca éticas próprias de seu tempo, mas isto não significa que certos aspectos não tenham permanecido. Acredito que continue havendo uma relação significativa entre a praia de Ipanema e os jovens da cidade – já que ela atrai freqüentadores de diversas procedências, tanto da cidade, como de fora dela. Penso que essa relação com a juventude contribui para o fenômeno tradicionalmente associado a Ipanema: ser “um bairro que lança modas”.
Estudos sobre tendências comportamentais realizados pelo Observatório de Comportamento e Consumo do SENAI/ CETIQT, em parceria com o instituto italiano Future Concept Lab, revelam a emergência de um estilo de vida urbano, que valoriza o despojamento (não ostentação), o contato com a natureza e a sustentabilidade. Diante desse cenário, você considera que o bairro de Ipanema ocupa um lugar estratégico no Brasil?
MG: Sem dúvida. A representação da Ipanema praiana, descolada, “de chinelo tomando água de coco”, mas que – e isto é importante – não deixa faltar sua dose de elegância e “classe” é muito lucrativa!
Basta observar como a identidade de marca e o estilo de certas lojas se ancoram nas simbologias do bairro. O caso da Osklen é ilustrativo desse fenômeno. Em 2004, por exemplo, a grife lançou uma coleção chamada “United Kingdom of Ipanema”, estampando referências do bairro, como “Arpoador” e “Posto 9″ em roupas e acessórios. A explicação de que “Ipanema tem uma vida urbana cosmopolita integrada à natureza” foi inclusive o argumento utilizado por Oskar Metsavaht para falar à imprensa sobre a inspiração para essa coleção.
Fonte:http://www.cetiqt.senai.br/blog/comportamento/index.php
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