domingo, 31 de janeiro de 2010

Alta costura de hoje não vende nem perfume

 

Peças exageradas no desfile de Jean Paul Gaultier

 Independentemente das ideologias e dos fatores de exclusão, a alta costura tem sido, nos últimos anos, o espaço da moda aberto ao sonho e à fantasia, momento em que a indústria pode estimular os estilistas a criarem novas imagens de moda e novos desejos. O que se vê hoje em dia, no entanto, não passa nem perto disso.

Ao analisar a temporada de alta costura para o Verão 2010 europeu, que terminou na última quarta-feira (27), temos uma triste constatação: aqueles vestidos não vendem nem perfume! Sim, porque a gente sabe que há muito tempo a alta costura funciona como uma vitrine: ela expõe a imagem da marca para o mundo, criando o desejo de consumo na cliente, que, sem dinheiro para comprar as peças luxuosas da coleção, se realiza adquirindo um perfume ou maquiagem daquela grife. Mas eu me pergunto: será que essa imagem inspira, provoca desejo? Será que esse desfile convence alguém a comprar até mesmo um frasco perfume?

No Brasil, o termo alta costura é freqüentemente utilizado para designar o prêt-à-porter de luxo ou a “roupa de festa”, mas na verdade a alta costura é muito mais do que isso. Trata-se de uma instituição francesa que segue padrões rigidamente controlados. Assim como a regulamentação de certos alimentos ou bebidas, como o champagne, por exemplo - que só recebe esse nome se for produzido na região de Champagne -, uma roupa só pode ser considerada de haute couture se atender a rigorosos pré-requisitos. Além de ser confeccionada sob medida e à mão por profissionais altamente especializados, deve cumprir uma série de exigências estabelecidas pelo seu órgão regulador, a Chambre Syndicale de la Couture Parisienne ( Câmara Sindical da Costura Parisiense) , entre elas estar estabelecido com sede própria na região do luxo parisiense e desfilar duas coleções por ano, com pelo menos cinqüenta modelos em cada uma. Isso tudo para garantir um produto de ponta da indústria, o laboratório de excelências da área da moda. O que se vê hoje, no entanto, é uma série de equívocos, embrulhados em papel de presente.

Fonte de orgulho e divisas para a nação francesa, a alta costura já foi ditadora absoluta das regras de elegância para o Ocidente. Até a década de 60 as pessoas seguiam à risca o que era estipulado pelos costureiros das maisons. Já foi também fonte de inspiração para a produção da moda desde os anos 90, quando John Galliano assumiu a Dior, transformando-a numa das principais lançadoras de tendências.


Looks apresentados por Anne Valérie Hash em Paris

Por isso é lamentável o que se viu na última estação.
 
É triste não encontrar o novo em nomes como Anne Valerie Hash – que decalcou sua coleção pífia e rock’n roll a partir de peças alheias, Stephano Rolland – com coleção de estilo genérico e irregular em seus vestidões de noite -, Christophe Josse – cuja coleção o mundo, que hoje se deseja sustentável, poderia facilmente prescindir-, ou Franck Sorbier - que, bem, não dá nem pra comentar.

É mais triste ainda ver marcas criativas derrapando feio na passarela, como foi o caso da coleção pesada de Jean Paul Gaultier com suas “palmeiras selvagens” – nada próximas à do escritor William Faulkner-, Armani Privé, com formas duras, forçadas, cafonas – e Galliano – mais do mesmo, só que cansado.

Mas o pior de tudo foi ver a imagem da Valentino, construída a duras penas e rigor milimétrico ser brutalmente maculada por uma tentativa precária de “renovação”. Apoiado por uma coleção cafona e sem criatividade, eclipsada por uma confusão técnica, que não trouxe nada de novo, o desfile decepcionou a comunidade fashionista, trazendo pessimismo para o meio.

Para quê serve a alta costura nos dias de hoje? Ainda serve para divulgar a mensagem da marca ou esta tarefa está nas mãos de Nicoles Kidmans e Audreys Tautous do cinema holywoodiano? Será que ainda vamos ter um espaço para a experimentação e a criação da moda de vanguarda ou a moda vai se transformar apenas num negócio qualquer, como fabricar barbantes? Vamos continuar observando, fazendo figa para que vença a criação.


Fonte:http://estilo.uol.com.br/moda/dicas/2010/01/29/29alta-costura-de-hoje-nao-vende-nem-perfume.jhtm

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