Diretor da Ledbury Research aponta os impactos da crise no mercado de luxo
Ele roda o mundo tentando entender e explicar como os ricos e ultraricos gastam suas fortunas. James Lawson, diretor da Ledbury Research, uma das empresas de pesquisa mais respeitadas nesse segmento tem com clientes como Tiffany’s, Gucci e Hermès. Em São Paulo para participar da segunda edição da Conferência Internacional do Negócio do Luxo, Atualuxo, promovida pela MCF Consultoria entre os dias 9 a 11 de setembro, o inglês falou sobre o impacto da crise no setor de luxo e suas possíveis consequências.
Gestão do Luxo: A crise financeira afetou os ultraricos?
James Lawson: O impacto mais dramático da crise aconteceu justamente nesse grupo. Eles sofreram financeiramente, porque perderam muitas propriedades, investimentos e negócios, e psicologicamente, porque depois das mudanças começaram a questionar seus hábitos e compras. Mesmo aqueles que não perderam tanto passaram a se sentir constrangidos em continuar gastando como antes, enquanto seu vizinho perdeu quase tudo.
GL: Como isso afeta o mercado de luxo?
Lawson: Estamos vendo a maior mudança no mercado de luxo nos últimos 20, 30 anos. Ele está se contraindo como nunca e isso resultará em ajustes. Todos ainda estão se perguntando para onde o consumidor vai e como lidar com isso, mas ainda é cedo para respostas.
GL: Você arriscaria um palpite?
Lawson: É difícil falar em uma única estratégia. As marcas precisam entender que o humor do consumidor mudou. Em alguns mercados o consumo se tornou mais discreto, menos ostensivo, mas em outros, nem tanto. É necessário analisar essa mudança e depois pensar qual a melhor forma de agir. Nos últimos 10, 20 anos as marcas de luxo se permitiam criar o que quisessem, sem se preocupar com o consumidor. Elas tinham um público fiel num caminho unilateral. Mas, daqui para frente, será preciso dialogar com o consumidor para saber quais suas necessidades e desejos antes de investir em algo novo.
GL: Como deverá ser o luxo daqui para frente?
Lawson: O histórico do mercado de luxo nos mostra que em todo período de crise as vendas caem num primeiro momento, mas depois se recuperam rapidamente. O que deve mudar é a essência do luxo. No passado, o luxo era mais elitista, icônico, caro e significava status, posse e poder. Há seis anos ficou mais ligado à exclusividade, responsabilidade social e ambiental, experiência e personalização, e ganhou mais refinamento, mais significado para o consumidor em busca de recompensas para si mesmo. No futuro, ele deve ficar ainda mais ligado à responsabilidade e à consciência. Nesso momento, pagar pesadas taxas sobre esses produtos não basta. O consumidor quer que o produto em si ajude a melhorar o mundo.
GL: Os milionários também são lançadores de tendências. Tendo isso em mente, o que podemos esperar para o futuro?
Lawson: Os ricos já não influenciam tanto as pessoas quanto as celebridades. Os compradores desse mercado estão muito menos interessadas em saber o que Flavio Briattore está usando ou que carro está dirigindo do que antigamente. Hoje em dia, a base de referências está ficando muito mais ampla. Mas, em geral, pode-se esperar um aumento do interesse por produtos de luxo com tecnologia de ponta embutida e que, ainda assim, venham “embalados” com materiais ligados à natureza. Produtos fabricados em seus próprios países ou que realmente ajudem o desenvolvimento de uma região também devem se tornar mais atraente.
GL: Os Brics são mesmo a grande salvação para o mercado de luxo nesse momento?
Lawson: É importante focar nesses mercados, principalmente quando se vê, cada vez mais, a descentralização do luxo, mas acho um pouco perigoso superestimar o potencial desses países. Nesse momento, a China é o mercado mais importante dos quatro [países], especialmente nos últimos cinco, dez anos. A Rússia é muito nervosa e volátil, com grandes ganhos e perdas. E foi o mais atingido pela crise. A India ainda está em desenvolvimento e, no Brasil, a principal questão é volume, o que sempre interessa. Mas, por enquanto, os Estados Unidos continuam a ser a base do mercado de luxo, com já nos acontece há dez, vinte anos, respondendo por 31% do volume de negócios desse setor, seguido pela Europa (30%) e Ásia (28%).
GL: A crise ajudará a redefinir os limites do luxo?
Lawson: O termo luxo está muito banalizado. Virou sinônimo de qualidade e performance, e por isso você encontra produtos ditos de luxo até no Walmart. As pessoas falam de luxo como se fosse algo único, com alguns critérios a serem preenchidos. Mas, na verdade, esse é um conceito muito fragmentado. Há o universo do ultraluxo, do luxo, do premium, do masstige, dos outlets, cada um voltado a um tipo de consumidor e renda. Ainda será necessário um longo caminho para redefinir claramente os limites do que realmente é luxo. E, por isso, acho que a indústria precisará se afastar um pouco desse termo para que ele volte a fazer sentido.
GL: A estratégia de massificação do luxo, a longo prazo, não tende a afastar os milionáros dessas marcas?
Lawson: O luxo sempre serviu para diferenciar as pessoas e, ao mesmo tempo, enfatizar a que grupo elas pertenciam. Quando as marcas começaram a reduzir seus preços e a criar novas gamas de produtos, perdendo a exclusividade, esses clientes mais abastados começaram a culpar os fabricantes e se afastaram um pouco, passando a consumir coisas ainda mais valiosas. Ao mesmo tempo, migraram para marcas muito mais discretas, que muitas vezes nem usam logotipo, como faz a Bottega Veneta, por exemplo. Ao invés de ostentar marcas e terem símbolos para mostrar que são ricos, estão mostrando ao mundo sua posição social através da filantropia, da caridade e do envolvimento em trabalhos mais responsáveis, que ajudem na redistribuição de renda no mundo. Por outro lado, a estratégia de massige criou um novo público, que pode passar um mês comendo Corn Flakes e feijões enlatados só para se presentear com um item de luxo, porque para ele isso é importante. E esse público é enorme e não será facilmente desprezado pelas marcas.
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