Nada de brilhos suntuosos, texturas plásticas ou
superfícies metálicas. O novo conceito fashion, defendido por Oskar
Metsavath, diretor da grife Osklen, deve ser um produto sofisticado sim,
mas de origem sustentável.
A ideia foi debatida na Bienal de São
Paulo, durante apresentação do projeto ‘Traces’, fruto da cooperação
ítalo-brasileiro que rastreou a pegada de carbono e os impactos sócios
ambientais de seis artigos produzidos pela marca. O encontro, realizado
na Sala 3, antes do início dos desfiles da São Paulo Fashion Week,
contou com as presenças do ministro italiano Corrado Clini, do Meio
Ambiente Terra e Mar (IMELS) e da coordenadora Martina Hauser; Mario
Garnero, presidente do Fórum das Américas, Rafael Cervone, diretor do
Programa TexBrasil, da Abit e Paulo Borges, diretor criativo do SPFW,
mediador do evento.
Embora de muletas, devido a um acidente sofrido
recentemente, Oskar Metsavaht, que também é presidente do Instituto-e,
estava muito entusiasmado com a possibilidade de expandir o projeto, do
qual é pioneiro no Brasil. “Não temos que ficar competindo com produtos
baratos da Ásia, ou com a moda iconográfica dos Estados Unidos ou da
Europa, que deixou de ser elegante para ser esnobe. Hoje, o novo luxo é a
inovação aliada à produção sustentável. É a inclusão social em
sinergia com criatividade e design. É possível fazer algo bonito,
sofisticado e de valor sem agredir a natureza. O Brasil tem tudo para
ser protagonista deste novo luxo”, defendeu o empresário e ativista
ambiental.
O Instituto-e é uma associação privada civil sem fins
lucrativos, criada e sediada no Rio de Janeiro, voltada para a promoção
da vocação do Brasil como “país do desenvolvimento sustentável”. Visa
sensibilizar a sociedade e dar visibilidade a temas, projetos e
parceiros envolvidos com o desenvolvimento social, ambiental, cultural e
econômico. A entidade atua também nas esferas da educação e da promoção
social.
Parceria ecológica
Não menos animado, o ministro italiano disse que “países
irmãos como Brasil e Itália” podem criar juntos um novo mercado de
produtos que despertem o desejo do consumo consciente. “Eu acredito que o
projeto Traces será o primeiro passo, o primeiro bloco de um programa
ambicioso de autogestão da indústria em adotar a pegada de carbono como
balizador para o desenvolvimento de um novo ciclo produtivo. Tenho
certeza de que os europeus estão prontos a pagar mais caro para
enfrentar este desafio”, ressaltou Corrado Clini. Segundo o ministro, o
governo da Itália já investiu até agora 8 milhões de euros, sendo 1
milhão de euros só no Traces, para os projetos sustentáveis no Brasil.
Além do setor têxtil/moda, há ações no campo da bioenergia e alimentos
orgânicos.
Clini informou que foi lançado, há duas semanas, em São
Paulo, o projeto para a produção da segunda geração de biocombustíveis,
que utiliza rejeitos (bagaços) da cana de açúcar. “A primeira geração
era derivada da própria cana, porém, a produção de biomassa não pode
afetar a segurança alimentar. Esta é uma questão muita discutida hoje
nos países emergentes. Como conciliar produção sustentável como
necessidade de ser reduzir a fome e a pobreza. Ao utilizar o bagaço,
subproduto da cana direcionada para usina de açúcar e álcool, é possível
conciliar o aproveitamento da mesma fonte de matéria prima em outras
cadeias de valor”, defende o ministro italiano.
O que é o projeto Traces
Em junho de 2011, o Instituto e o Ministério do Meio
Ambiente da Itália, em parceria com o Fórum das Américas e o
Senai-Cetiqt, do Rio de Janeiro, rastrearam a pegada de carbono e os
impactos socioambientais de seis e-fabrics® (materiais sustentáveis)
usados pela marca Osklen para a produção de artigos de moda. Os
materiais foram: algodão orgânico, algodão reciclado, couro de peixe
Pirarucu, juta da Amazônia, malha feita de fibra de garrafa PET
reciclada e seda orgânica. Especialistas de ambos os países estudaram a
cadeia de produção de cada um desses seis produtos para conferir o
manejo sustentável, identificar aspectos sociais e avaliar as emissões
de gases de efeito estufa. Os técnicos também observaram possíveis
medidas de mitigação para minimizar os impactos ambientais durante o
ciclo de produção das peças. A equipe viajou pelo Brasil de Norte a Sul
durante quase um ano, colhendo e compilando dados. Os resultados indicam
como os impactos ambientais da produção da Osklen são mínimos se
comparados com os da indústria têxtil convencional e como seu fomento
evita que questões sociais da maior gravidade.
Alguns produtos da
marca, como as bolsas confeccionadas em uma cooperativa de reciclagem de
lixo de Marambaia, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, já foram expostas no
MoMA - Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Desafios para continuidade
Rafael Cervone, diretor do Programa TexBrasil, disse que
o projeto é um grande desafio para a indústria têxtil brasileira que
ainda precisa ser mais eficiente no que se refere à produção
sustentável. Ele, entretanto, revelou alguns avanços já conquistados
pelas empresas brasileiras, que engloba 30 mil estabelecimentos (fiação à
confecção): 23% delas já têm créditos de carbono. 56% possuem programas
de reflorestamento, 63% reutilizam águas industriais e mais 3 mil
possuem certificações ambientais.
Já Mario Garnero, presidente do
Fórum das Américas, elogiou a iniciativa da Osklen de apostar em um
projeto pioneiro no Brasil. “Oskar Metsavath é um ambientalista prático.
Não é teórico. Ele provou que é possível fazer moda de bom gosto e
valor agregado com ação social e preservação da natureza. Por isso,
apoiamos este e qualquer outro projeto nesta linha. A função do fórum é
desenvolver novas tecnologias de produção verde, como o carro a álcool,
que já fizemos no passado e que foi a primeira vitrine brasileira nesta
área”.
Oskar Metsavath acrescentou que o principal desafio é atrair
mais empresas para o projeto e difundir a ideia junto aos consumidores
brasileiros que hoje estão ávidos para comprar, mas que ainda não
consideram a questão ambiental. Isso é em razão de a maioria dos
produtos sustentáveis, de roupa a alimentos orgânicos, ainda ser muito
caros para grande parte da população. “Eu espero que o governo
brasileiro passe a incentivar, com isenções fiscais, por exemplo, a
inovação feita por empresas que estão comprometidas com a produção
sustentável. Senão, o discurso ambientalista acabará caindo no
descrédito”.
Paulo Borges enalteceu os debatedores e disse estar
orgulhoso de um tema tão relevante ter sido debatido durante a SPFW, ao
mesmo tempo em que acontece no Rio de Janeiro a Conferência da ONU para a
Sustentabilidade, a Rio + 20, que termina dia 22 de junho.
Fonte:PortalTextila - Por: Marcia Mariano
Fotos: Divulgação
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