quarta-feira, 23 de junho de 2010

über-dica: Flor do Deserto


"A mutilação genital feminina não tem nenhuma relação com a cultura, a tradição ou a religião. É um crime."
- Waris Dirie
Waris Dirie chamou a atenção da imprensa quando seu belo rosto passou a ser estampado nas revistas e nas passarelas mundo afora nos anos 90. Ao ser entrevistada, a modelo somali negou que o dia em que foi descoberta por um consagrado fotógrafo enquanto fazia limpeza em uma lanchonete de Londres tenha significado a grande mudança da sua vida. O dia decisivo, que daria as cartas e direcionaria seus passos, teria acontecido muito antes e marcaria sua vida para sempre.

Aos cinco anos, Waris foi vítima da mutilação genital feminina - ato brutal em que o clitóris da menina é extirpado para evitar que tenha prazer na relação sexual. É justificado pela tradição e pelo islã e praticado principalmente em países africanos, entre eles a Somália. Vítima da barbaridade, Waris escolheu abandonar a rentável carreira de modelo internacional para levantar a bandeira contra a brutalidade. Escreveu o livro homônimo Flor do Deserto (que é a tradução de Waris) e criou uma fundação que leva o seu nome para angariar fundos para a causa, montar projetos que possam assistir cerca de 150 milhões de mulheres que sofrem as consequencias da mutilação e conscientizar as pessoas através de campanhas internacionais. E mais, autorizou a produção deste filme, que conta a sua história.

Flor do Deserto fala da trajetória real da menina nômade, que foge da família pelo deserto, vai para Londres, passa fome e necessidade, encontra ajuda, é descoberta pelo mundo da moda e hoje é embaixadora da ONU (interpretada pela top-model etíope Liya Kebede). A história é incrível, dirigida com sensibilidade e até com toques de humor. Aliás, acho que esse é o ponto. Apesar do tema difícil, o filme tem mais humor, cor e graça do que se imagina para uma vida sofrida como essa e não cai no provável dramalhão. Talvez por isso não tenha cara de documentário. Faz alarde sem fazer terror. Talvez uma estratégia para não tornar tudo tão pesado e, assim, atrair o grande público aos cinemas. Afinal, alardear o assunto e conseguir apoio mundial para punição dos culpados é o grande objetivo. Além de fazer, é claro, alguma diferença.

Estreia dia 25 de junho nos cinemas.
DIREÇÃO: Sherry Horman
ROTEIRO: Waris Dirie (livro), Smita Bhide, Sherry Horman
ELENCO: Liya Kebede, Sally Hawkins, Craig Parkinson, Meera Syal, Anthony Mackie, Juliet Stevenson, Timothy Spall, Soraya Omar-Scego Inglaterra, Aústria, Alemanha, 2009 (min)

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