Não é novidade que a moda brasileira vem conquistando cada vez mais espaço no cenário mundial. No entanto, isto não é sinônimo de reconhecimento e algumas mudanças são necessárias para o país, que já não é mais promessa, alcance um patamar consolidado.
Para o Inspiramais, o desenvolvimento interno do Brasil, assim como o de sua imagem no exterior, depende principalmente da criatividade dos produtores de moda. Nesta 2ª edição do evento, que está acontecendo no Shopping Frei Caneca, em São Paulo (SP), diversos foram os caminhos apontados para isso. A seguir, acompanhe algumas visões trazidas em palestras da quarta, dia 28.
"O simples não é banal"
A frase acima é de Francesco Morace, sociólogo, jornalista e escritor italiano. Para ele, a originalidade profunda, sem clichês, é o pilar da construção de uma identidade forte para a moda nacional. Quanto menos os lançamentos de fora guiarem o que é produzido aqui, mais rapidamente a indústria interna vai ser identificada e valorizada.
O exemplo estrangeiro que devemos observar é o do mercado de luxo. "As grandes grifes exageraram na valorização de seus produtos. O consumidor mudou, não é bobo, e ao escolher itens de qualidade, considera muito mais a relação custo-benefício", afirma. Ele sustenta ainda que o artesanal e o industrial devem andar juntos para se tornarem mais fortes.
Renato Imbroisi, designer e tecelão carioca, concorda. Tratando exclusivamente do artesanato em sua palestra, abordou meios de promover esta conciliação sinérgica. Associar a imagem do local com os produtos, mostrar o mercado em potencial para artesãos e criar uma cadeia de produção, em que cada setor aproveita materiais restantes do anterior, são as medidas mais eficientes.
Repensar elementos e materiais de uma cultura específica com diferentes aplicações para a moda, como ele fez ao transformar bombachas (calças típicas de gaúchos) em colchas, também é um caminho interessante. Ao fazer isto, no entanto, é necessário decidir quais serão os produtos focados e perseverar neles.
Venda ideias, não produtos
Luís Justo, CEO da Osklen, também acredita na escolha de competências. Ele lembra que o modelo de criação da Osklen pode ser um meio de repensar a cadeia produtiva. O conceito para a próxima temporada, por mais inovador que seja, é definido muito antes das peças e segue o DNA da marca. Assim, visual de lojas, campanha publicitária e roupas ficam com um mesmo espírito.
Segundo ele, preço, exclusividade, marca e ponto de venda não importam mais, sobretudo no mercado de luxo. O cliente busca identificação nas peças que escolhe e quanto mais multissensorial for a divulgação da marca, mais fácil o consumidor entenderá o que a coleção que está na prateleira quer dizer. Mesmo assim, apostar em um estilo não é indicado: "todos somos compostos por um mix de lifestyles. Estereotipar seu público-alvo, limita seu alcance".
O discurso de Alvaro Arthur de Castro, professor e mestre em Ciências Sociais, reafirma esta identidade móvel regida pelo consumo que vivemos. Hoje, desempenhamos muitos papeis e somente um fragmento de nossa personalidade não pode representar o resto. Ninguém tem um só estilo de vida. "A principal vantagem disto é que nada precisa ser jogado fora, há consumidor para tudo", afirma ele.
Com a evolução da tecnologia, qualquer produto pode ser copiado, portanto não é seguro oferecer "produtos exclusivos", mas sim ideias novas. Informalidade e descontração são palavras que entram na concepção de um negócio de moda e o Brasil é privilegiado por ter diversas culturas diferentes convivendo em harmonia.
Para surpreender e ser inovador, Castro fala o óbvio e resgata a simplicidade, tópico salientado também por Morace. "Quando presto consultoria para empresas, muitas me perguntam como exceder as expectativas de seus clientes. Em vez de uma fórmula mágica, eu falo ´não invente, apenas entregue o que vende. Muitas vezes a pessoa paga por um produto e recebe outro´. Ficar surpreso hoje em dia não é muito diferente de ficar satisfeito.", conclui o palestrante.
Fonte:Usefashion.com